No início da década de 1990, o psicólogo K. Anders Ericsson
e
colaboradores realizaram um estudo com três grupos de
violinistas, todos da mesma instituição – a
Academia de Música de Berlim, considerada uma escola de excelência no campo musical.
O primeiro grupo era composto de alunos com potencial para se tornarem solistas de nível internacional. O segundo incluía os alunos considerados muito bons. No terceiro grupo estavam os estudantes que dificilmente chegariam a tocar como profissionais, mas que tinham conhecimento e talento suficientes para se tornarem ótimos professores de música. Todos, sem exceção, possuíam habilidades excepcionais para a música, uma vez que foram capazes de ingressar numa instituição exigente como aquela.
Ericsson constatou que todos os violinistas começaram a
tocar mais ou menos com a mesma faixa etária, em
torno dos cinco anos. No entanto, por volta dos vinte
anos, os músicos excepcionais (grupo um) haviam totalizado, ao longo dos
seus estudos, cerca de 10 mil horas de treinamento; os
muito bons (grupo dois), cerca de 8 mil horas; e
os futuros professores de música, algo em torno de 4 mil horas.
Diversos estudos feitos por pesquisadores
especializados em talento e
desempenho apontam para as 10 mil horas como um número
de excelência na formação de expertises. Segundo
o neurologista norte-americano Daniel Levitin, tudo
indica que as tais 10 mil horas são o tempo mínimo de que o cérebro necessita para assimilar toda a informação e o conhecimento necessário
para atingir a inquestionável destreza em uma
determinada área de talento específico.
Outros estudos também foram realizados com
compositores, escritores, jogadores de xadrez,
tenistas, jogadores de basquete, ginastas, cirurgiões, gênios da ciência ou da física. Seja quem for e no que for, o número
mágico das 10 mil horas sempre ressurge.
Dez mil horas equivalem à média de três horas por dia
ou vinte horas por semana de treinamento durante
dez anos. Michael Howe, psicólogo e autor do livro
Genius Explained (O gênio desvendado), refere-se à
genialidade de Mozart da
seguinte forma: “Dos concertos
que só contêm música original de Mozart, o mais antigo e que agora é considerado uma
obra-prima (nº 9, K. 271) só foi criado quando ele tinha 21 anos. Àquela idade,
Mozart vinha compondo Em suma: podemos afirmar
que a prática não é aquilo que uma pessoa faz
quando se torna boa ou excepcional em algo; é
exatamente aquilo que ela faz para se tornar uma
referência no talento que exerce.
É lógico que devemos considerar que 10 mil horas de
foco e dedicação é um tempo considerável. Para
um adulto jovem atingir esse padrão é necessário que tenha disponibilidade, paixão, talento e incentivo.
Trecho retirado do livro “O cérebro que se transforma” –
Norman Doidge